quinta-feira, 4 de julho de 2019

EGOÍSMO E ORGULHO: Causas, Efeitos e Meios de Destruí-los



É fato reconhecido que a maior parte das misérias da vida tem origem no egoísmo dos homens. Desde que cada um só pensa em si, antes de pensar nos outros, e cogita, antes de tudo, de satisfazer aos seus próprios desejos, é natural, que procure proporcionar a si mesmo essa satisfação, a todo custo, sacrificando, sem escrúpulos, os interesses alheios, quer nas coisas mais insignificantes, quer nas maiores, tanto de ordem moral, quanto de ordem material. Daí todos os antagonismos sociais, todas as lutas, todos os conflitos e todas as misérias, visto que cada um só trata de despojar o seu próximo,
Louváveis esforços são feitos, sem dúvida, para ajudar a Humanidade a avançar; encorajam-se, estimulam-se, honram-se os bons sentimentos, hoje mais do que em qualquer outra época, e, não obstante, o verme devorador do egoísmo continua a ser a praga social. É um verdadeiro mal que se espalha por todo o mundo e do qual cada um é mais ou menos vítima. É necessário combatê-lo, portanto, como se combate uma epidemia. Para isso, deve-se proceder à maneira dos médicos: remontar à causa. Que se pesquisem em toda a estrutura da organização social desde a família até os povos, da choupana ao palácio, todas as causas, todas as influências patentes ou ocultas que excitam, entretêm e desenvolvem o sentimento do egoísmo. Uma vez conhecidas as causas, o remédio se apresentará por si mesmo; só restará então combatê-las, senão a todas ao mesmo tempo, pelo menos por parte, e pouco a pouco o veneno será extirpado. A cura poderá ser prolongada porque as causas são numerosas, mas não é impossível. De resto, não se chegará a esse ponto se não se atacar o mal pela raiz, ou seja. pela educação. Não essa educação que tende a fazer homens instruídos, mas a que tende a fazer homem de bem.
O egoísmo, por sua vez, se origina do orgulho. A exaltação da personalidade leva o homem a considerar-se acima dos outros. Julgando-se com direitos superiores, melindra-se com o que quer que, a seu ver, constitua ofensa a seus direitos. A importância que, por orgulho, atribui à sua pessoa, naturalmente o torna egoísta. O orgulho e o egoísmo andam, assim, de mãos dadas. São sentimentos onde o amor próprio procura preservar a individualidade em prejuízo da vida coletiva. Todos nós trazemos suas marcas na conduta, em face de estarmos ligados ao instinto de preservação.
O egoísmo e o orgulho têm origem, como acima já mencionado, num sentimento natural: o instinto de conservação. Todos os instintos têm razão de sua ser e sua utilidade, pois  Deus não faz coisa alguma inútil. Deus não criou o mal; é o homem que o produz por abuso dos dons divinos, em virtude do livre-arbítrio. O Espírito quando está em sua fase animal vive a plenitude dos instintos. Na impossibilidade de raciocinar, procura instintivamente preservar-se das intempéries do meio. O egoísmo e o orgulho nascem, desta forma, de um sentimento natural: o instinto de conservação. Entre os interesses de um indivíduo e de outro, valem os interesses da individualidade. Isso é o egoísmo e o orgulho. Este sentimento, contido em justos limites, é bom em si; o seu exagero é que o torna mau e pernicioso. O mesmo acontece às paixões, que o homem desvia do seu fim providencial. Deus não criou o homem egoísta e orgulhoso, mas simples e ignorante; foi o homem que, ao malversar o instinto, que Deus lhe deu para a própria conservação, se tornou egoísta e orgulhoso.
Os homens não podem ser felizes enquanto não viverem em paz, isto é, enquanto não forem animados pelos sentimentos de benevolência, indulgência e condescendência recíprocas e enquanto procurarem esmagar uns aos outros. A caridade e a fraternidade resumem todas as condições e deveres sociais, mas reclamam abnegação. Ora a abnegação é incompatível com o egoísmo e com o orgulho; logo, com estes vícios não pode haver verdadeira fraternidade e, em conseqüência, igualdade e liberdade; porque o egoísta e o orgulhoso tudo querem para si. Eles serão sempre os vermes roedores de todas as instituições progressistas e, enquanto reinarem, os mais generosos sistemas sociais, os mais sabiamente combinados, cairão aos golpes deles.
Faz gosto, sem dúvida, proclamar o reinado da fraternidade; mas de que serve, se  é acompanhado por uma leva de destruição? É construir na areia movediça; é o mesmo que decretar a existência da saúde, numa região insalubre. Para ali, se quiserem garantir o bem de seus habitantes, não basta enviar médicos, os quais morrerão como os outros; é preciso destruir as causas da insalubridade,
Se quiserem que os homens vivam como irmãos, na Terra, não basta dar-lhes lições de moral; é preciso destruir a causa do antagonismo existente e atacar a origem do mal: o orgulho e o egoísmo. É esta a chaga que deve merecer toda a atenção daqueles que desejam seriamente o bem da humanidade. Enquanto subsistir este obstáculo, estarão paralisados os seus esforços, não só pela resistência originada na inércia, como por uma força ativa, que trabalhará, incessantemente, para destruir o trabalho empreendido; porque toda grande idéia, generosa e emancipadora, é arruinada pelas pretensões pessoais.
Destruir o egoísmo e o orgulho é impossível, dirão, porque esses vícios são inerentes à espécie humana. Se assim fosse, impossível seria o progresso moral, ao passo que, quando consideramos o homem em diversas épocas, reconhecemos a ocorrência de um progresso incontestável; logo, se ele sempre tem progredido, em progresso continuará. Por outro lado, não haverá, por ventura, algum homem limpo de orgulho e de egoísmo? Não há exemplos de pessoas dotadas de natureza generosa, em quem o sentimento do amor ao próximo, da humildade, do devotamento e da abnegação, parece inato? O número delas é, positivamente, superior ao dos egoístas, bem o sabemos, e se assim não fosse, estes não seriam os promotores da lei; mas não é tão reduzido, como pensam, e se parece menor é porque a virtude, sempre modesta, se oculta na sombra, ao passo que o orgulho se põe em evidência. Se pois o egoísmo e o orgulho fossem condições de vida, como a nutrição, então, sim, não haveria exceção.
O essencial portanto é fazer com que a exceção passe a ser regra e, para isso, torna-se necessário destruir as causas produtoras do mal. A principal é, evidentemente, a falsa idéia, que faz o homem da sua natureza, do seu passado e do seu futuro. Não sabe donde vem, julga-se mais do que é; não sabendo para onde vai, concentra todos os pensamentos na vida terrestre. Deseja viver o mais agradavelmente possível, procurando a realização de todas as satisfações, de todos os gozos. É por isso que investe contra o seu semelhante, se este lhe opõe obstáculo; então entende dever dominar, porque a igualdade daria aos outros o direito que ele quer só para si; a fraternidade lhe imporia sacrifícios em detrimento do próprio bem-estar, e a liberdade, deseja-a só para si, não concedendo a outrem senão o que não lhe fira as prerrogativas. Se todos têm essas pretensões, hão de surgir perpétuos conflitos, que farão comprar bem caro o pouco gozo, que conseguem obter.
Identifique-se o homem com a vida futura e a sua perspectiva mudará inteiramente, como acontece a quem sabe que por pouco tempo terá que viver num lugar ruim e que, dele saindo, alcançará um excelente lugar para o resto de seus dias..
A importância da presente vida, tão triste, tão curta e efêmera, desaparece diante do esplendor da vida futura, a qual é infinita, que se abre à sua frente. A conseqüência natural e lógica desta certeza é o sacrifício voluntário do presente fugidio, em prol de um futuro sem fim, ao passo que antes tudo era sacrificado em favor do presente. Desde que sua vida futura se torne o fim, que importa desfrutar, mais ou menos, nesta? Os interesses mundanos passam a ser acessórios, em vez de principais. Trabalha no presente, a fim de assegurar-se uma boa posição no futuro, sabendo quais as condições para alcançá-la. Levando em conta os interesses mundanos, os homens podem opor-lhes obstáculos, que ocasionam a necessidade de combatê-los, o que gera o egoísmo. Se porém erguerem os olhos para onde a felicidade não pode ser perturbada por ninguém, nenhum interesse alheio precisa de ser debelado e, conseguintemente, não há razão de ser para o egoísmo, embora subsista o estímulo do orgulho.
A causa do orgulho está na crença, que o homem tem, da sua superioridade individual, e aqui se faz ainda sentir a influência da concentração do pensamento nas coisas da vida terrestre. O sentimento de personalidade arrasta o homem que nada vê diante de si, atrás de si ou acima de si; então o seu orgulho não conhece medidas.
A incredulidade, além de não ter meio para combater o orgulho, estimula-o e dá-lhe razão, pelo fato de negar a existência de um poder superior à humanidade. O incrédulo só crê em si; é, portanto, natural que tenha orgulho, não vendo nos contratempos que enfrenta, senão obra do acaso; ao passo que o crente vê a mão do Senhor naqueles contratempos e curva-se submisso, enquanto o outro se revolta.
Crer em Deus e na vida futura é, pois, a principal condição para moderar o orgulho; mas não é a única. Conjuntamente com o futuro, é preciso ter em vista o passado, para poder fazer justa idéia do presente. Para que o orgulhoso deixe de crer em sua superioridade, é preciso provar-lhe que ele não é mais que os outros e que todos lhe são iguais, que a igualdade é um fato e não uma teoria filosófica. São verdades que derivam da preexistência da alma e da reencarnação.
Sem a preexistência da alma, o homem que crê em Deus, é induzido a acreditar que Deus  Lhe conferiu singulares vantagens, e o que não crê, é levado a atribuí-los ao acaso e aos próprios méritos . A preexistência, dando-lhe a noção da vida anterior da alma, ensina-o a distinguir a vida espiritual, infinita, da corporal, temporária. Ele chega por aí a compreender que as almas saem todas iguais das mãos do Criador, têm o mesmo ponto de partida e o mesmo objetivo, que todos atingirão, em mais ou menos tempo, segundo os esforços empregados por cada um; que ele próprio não chegou ao ponto, em que se acha, senão depois de ter longa e penosamente vegetado como os outros, nos planos inferiores da evolução ; que não há, entre os mais e os menos adiantados, senão uma questão de tempo; que as vantagens do nascimento são puramente corpóreas e não afetam o Espírito; que o proletário pode, noutra existência, nascer num trono e o mais poderoso, vir como proletário.
Se ele considerar somente a vida corporal, vê as desigualdades sociais e não as pode explicar; mas se lançar a vista para o conjunto da vida espiritual, para o passado e o futuro, desde o ponto de partida até a chegada, todas aquelas desigualdades se lhe desfazem perante os olhos e reconhecerá que Deus não deu a nenhum de seus filhos vantagens que negasse a outros; que fez a partilha com a mais rigorosa igualdade, não preparando o caminho melhor para uns do que para outros; que o mais atrasado de hoje, dedicando-se à obra do seu aperfeiçoamento, pode ser amanhã mais adiantado; enfim, reconhece que, não se elevando ninguém, a não ser pelos esforços pessoais, o princípio da igualdade tem o caráter de um princípio de justiça e de lei natural, diante das quais não prevalece o orgulho dos privilégios.
A reencarnação, provando que os Espíritos podem renascer em diferentes condições sociais, seja por expiação, seja como prova, faz-nos saber que muitas vezes tratamos desdenhosamente uma pessoa, que foi noutra existência nosso superior ou igual, amigo ou parente. Se o soubéssemos, tratá-lo-íamos com atenção, mas neste caso não haveria nenhum mérito; e se soubéssemos, que o amigo de hoje fora antes um inimigo, um servo, um escravo, sem dúvida o repeliríamos. Deus não quis que fosse assim e por isso lançou um véu sobre o passado, para que em todos víssemos irmãos e iguais, como é mister para estabelecer-se a fraternidade; sabendo que poderemos ser tratados como houvermos tratado os outros, firmaremos o princípio de caridade como dever e necessidade, fundados nas leis da natureza.
Jesus enunciou os princípios da caridade, da igualdade e da fraternidade, dos quais fez condições indispensáveis para a salvação; mas à obra de Kardec ficou reservado, pelo conhecimento que proporciona da vida espiritual, pelos horizontes novos que descortina e pelas leis que revela, sancionar esses princípios, provando que eles não encerram apenas uma doutrina moral, mas uma lei natural, que está no interesse máximo dos homens cultivar e praticar. Ora, eles hão de praticá-la desde que deixarem de ver no presente, o princípio e o fim, compreendendo a solidariedade, que existe entre o presente, o passado e o futuro. No infinito campo, que o Espiritismo lhes põe aos olhos, a sua importância pessoal anula-se, porque compreendem que, sós nada valem e nada podem, que todos precisam uns dos outros, não sendo nenhum mais que o outro; duplo golpe desfechado contra o seu orgulho e o seu egoísmo.
Para isso, porém, é preciso terem fé, sem a qual ficarão retidos na rotina do presente, mas não a fé cega, que foge à luz, que restringe as idéias, alimentando o egoísmo, mas sim a fé inteligente, racional, que busca a luz e não as trevas, que rasga, ousadamente, o véu dos mistérios e alarga os horizontes. Essa fé, elemento essencial de todo progresso, é a que Kardec trouxe ao conhecimento da humanidade, uma fé robusta, porque está fundada na experiência e nos fatos, fornecendo provas palpáveis da imortalidade de sua alma, mostrando de onde ela vem, para onde vai e porque está na Terra e, finalmente, fixa suas idéias, ainda incertas, a respeito de seu passado e de seu futuro.
Uma vez tendo entrado decisivamente por esse caminho, não será dado mais ao orgulho e ao egoísmo, o pasto que os alimenta, resultando daí o seu aniquilamento progressivo e a modificação de todos os laços sociais, pela caridade e pela fraternidade, então bem entendidas. Poderá dar-se essa modificação  por efeito de uma brusca mudança? Não, isso é impossível, pois nada acontece aos saltos na natureza; a saúde não volta subitamente e entre a moléstia e a cura, há sempre a convalescença. O homem não pode, instantaneamente, mudar de sentimentos e elevar os olhos da terra ao céu; o infinito deslumbra-o e confunde-o; ele precisa de tempo para assimilar as novas idéias.
O cultivo dos valores espirituais é, sem dúvida, um poderoso elemento moralizador, porque mina o egoísmo e o orgulho, facultando sólido fundamento à moral; já fez e faz milagres de conversão. Não são ainda, é certo, senão curas individuais e, quase sempre, parciais; mas, o que produz nos indivíduos, é prenúncio do que produzirá um dia nas massas. Não pode, de uma vez, arrancar todas as ervas daninhas; mas dá a fé, que é boa semente e que não precisa senão de tempo para germinar e frutificar. Eis porque nem todos, ainda, são perfeitos. Ele encontrou o homem no meio da vida, no ardor das paixões, na força dos preconceitos, e se em tais condições, tem operado prodígios, o que não será quando o envolver, desde o nascimento, virgem de todas as impressões maléficas, quando receber a caridade desde a mais tenra idade e for embalado pela fraternidade, quando, enfim, uma geração inteira for alimentada por idéias que a razão fortificará em vez de falsear? Sob o domínio dessas idéias, que serão mandamentos de fé racional para todos, o progresso, limpando a estrada de egoísmo e orgulho, penetrará nas instituições que se reformarão a si mesmas, e a humanidade caminhará, rapidamente, para os destinos que lhe são prometidos na Terra, enquanto não chega a hora de alcançar os céus.

Obs: as presentes notas contem subsídios colhidos de várias fontes disponíveis na internet, destacando-se, dentre elas, os artigos “O Orgulho e o Egoísmo”, do site Portal do Espírito; “A origem do mal...o egoísmo e o orgulho!”, do site Rede Amigo Espírita; “Os Vícios Morais”, do site Pró-Educativa; “Orgulho: Pai de todos o Vícios”, do site Grupo Espírita Allan Kardec; “O Egoísmo”, de autoria de Leda de Almeida Rezende Ebner, publicado no site do Centro Espírita Bartuira; “Orgulho: Porta Aberta aos Espíritos Imperfeitos”, de autoria de José Queid Tufaile Huaixa, publicado no site Portal do Espírito-Espírito do Portal;  ”Orgulho e Humildade”, de autoria de Therezinha Jordão, publicado no site Rede Amigo Espírita e dos livros O Evangelho Segundo o Espiritismo, Livro dos Espíritos e Obras Póstumas, todos de autoria de Allan Kardec, sendo que do último”, a parte intitulada “ O Egoísmo e o Orgulho: Suas Causas, seus Efeitos e os Meios para Destruí-los”.     




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